Sabedoria bíblica

Um homem de sabedoria

De acordo com Êxodo 31:3, havia um homem chamado Besaliel (Betsal’el – בצלאל que significa: “Debaixo da sombra de Deus”) da tribo de Judá, uma das doze tribos de Israel. Foi um artesão que trabalhou na construção do tabernáculo, era capacitado “com habilidade, inteligência e conhecimento”. No hebraico original, essas são três qualidades mentais distintas.

1 – O primeiro termo, “habilidade”, é rorrima חָכְמָה em hebraico. Isso é muito mais do que meramente possuir fatos. O termo “rorrima” é sabedoria, é a capacidade de falar sabiamente, indo além da mera elocução ou qualquer capacidade de expressar pensamentos, seja por palavras ou por escritas. O contrário de palavras sem propósito ou “palavras de vento” (Jó 16:3). A exemplo desse dom de sabedoria é o rei Salomão, que era conhecido em todo o mundo por sua genial capacidade de julgar casos difíceis (1 Reis 4:34).

a) É um dom Espiritual: Mas o que é um Dom? Dons espirituais são a “manifestação” do Eterno Deus por meio de seu Espírito com um fim proveitoso (1 Co12.7). O Espírito do Eterno Deus não pode ser visto ou ouvido (João 1:18), porém ele se revela por suas operações e/ou efeitos.

Alguns textos:

“Como é feliz o homem que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento, pois a sabedoria é mais proveitosa do que a prata e rende mais do que o ouro” (Provérbios 3.13,14). 

“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser- lhe- á concedida. Peça- a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.” (Tiago 1:5-8) 

Um homem de entendimento

2 – A segunda qualidade é a “inteligência”, nas Sagradas Escrituras o termo é tevuná תְבוּנָה. Refere-se à capacidade de discernir. Esse é um “homem de entendimento” (Prov. 15:21), a ideia é de uma pessoa capaz de avaliar uma situação complexa, dar um passo para trás e distinguir ou discernir o certo do errado sem perder a serenidade. Isso é fundamental em tempos difíceis. É uma pessoa capaz de encontrar soluções produtivas em meio à diversidade mantendo e exercendo seu autocontrole sem perder com isso o problema presente ou a empatia ao próximo. Está Escrito: “Quem é tardio em irar-se é grande em entendimento” (Prov. 14:33).

Um homem de conhecimento

3 – A terceira qualidade é o “conhecimento”, está registrado nas Escrituras como da’at דַּעַת. Adão e Eva foram proibidos de comer da “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2:17). Isso se refere ao conhecimento, compreensão factual do que é moralmente certo e errado. Originalmente, essa qualidade pertencia a Deus apenas e, quando Adão e Eva comeram o fruto e adquiriram esse conhecimento, eles foram expulsos do Jardim do Éden.

Dentre as várias interpretações sobre o termo “conhecimento”, a que Karl Marti descreve como a habilidade de se manter sobre seus próprios pés e encontrar seu próprio caminho e fala do desejo humano de se emancipar de Deus cultivando essa habilidade. Em Gênesis 3 a questão não é primariamente o conteúdo do conhecimento do qual os seres humanos se apropriariam pela desobediência, mas o modo pelo qual fariam isso. A natureza do conhecimento do bem e do mal em questão aqui é caracterizada pelo fato de que os seres humanos, como resultado dele, seriam como Deus (Gn 3.5, 22). Violando o mandamento de Deus e comendo da árvore, eles se fariam semelhantes a Deus, determinariam e julgariam por si mesmos o que era bom e o que era mau. O conhecimento do bem e do mal não é o conhecimento do útil e do prejudicial, do mundo e de como controlá-lo, mas (como em 2Sm 19.36; Is 7.16) o direito e a capacidade de distinguir o bem e o mal por si mesmo. A questão, em Gênesis, é, de fato, se a humanidade quererá se desenvolver em dependência de Deus, tendo domínio sobre a terra e buscando sua salvação em submissão ao mandamento de Deus, ou se, violando esse mandamento e se afastando da autoridade e da lei de Deus, quererá se manter sobre seus próprios pés, seguir seu próprio caminho e tentar sua própria “sorte”. Quando caiu, a humanidade conseguiu o que queria: se fez como Deus, “conhecedora do bem e do mal” por seu próprio critério e julgamento. Gênesis 3.22 é completamente sério. Essa emancipação de Deus, porém, não conduziu e não podia conduzir à verdadeira felicidade. Por essa razão, Deus, pelo mandamento probatório, proibiu essa inclinação à liberdade, essa ânsia de independência. Entretanto, a humanidade, voluntária e deliberadamente, optou por seu próprio caminho, falhando, assim, no teste.

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Bibliografias Consultadas

1. O termo rorrima חָכְמָה em hebraico ocorre 149 vezes em 141 versos na concordância hebraica da King James Version (KJV) Página 1/3 (Êx 28: 3 a Job 32:13) e 153 vezes em 145 versos na concordância hebraica da New American Standard Bible (NASB)

2. O termo tevuná תְבוּנָהem hebraico ocorre 43 vezes em 42 versos na concordância hebraica da King James Version (KJV) e 42 vezes em 42 versos na concordância hebraica New American Standard Bible (NASB)

3. O termo da’at דַּעַת em hebraico ocorre 93 vezes em 91 versos na concordância hebraica da King James Version (KJV) Pág. 1/2 (Gn 2: 9 – Pro 17:27) e 92 vezes em 89 versos na concordância hebraica da New American Standard Bible (NASB) Pág. 1/2 (Gn 2: 9 – Pro 17:27).

Blue Latter Bible – Lexicon :: Strong’s H1847 – da`ath – Strong’s Number H1847 matches the Hebrew דַּעַת (da`ath) – https://www.blueletterbible.org/lang/lexicon/lexicon.cfm?Strongs=H1847&t=WLC

4. K. Marti, Geschichte der lsraelitischen Religion, 3a ed. (Estrasburgo: F. Buli, 1897), 197; C. Clemen, Sünde, I, 15lss; Trecho extraído da Dogmática Reformada do autor, volume 3, pág 31-33; J. Koberle, Sünde und Gnade im religiösen Leben des Volkes Israel bis auf Christum (Munique: Beck, 1905), 64ss; Herman Bavinck, Trecho extraído da Dogmática Reformada do autor, volume 3, pág 31-33.


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